Blog do Professor Márcio

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sábado, 30 de julho de 2011

Por que a população não sai às ruas contra a corrupção?

O jornal O Globo publicou uma reportagem no domingo (16/7) para questionar por que os brasileiros não saem às ruas para protestar contra a corrupção. Para fazer a matéria, os repórteres Jaqueline Falcão e Marcus Vinicius Gomes entrevistaram os organizadores das manifestações de defesa dos direitos dos homossexuais e da legalização da maconha. E a Coordenação Nacional do MST.

A repórter Jaqueline Falcão enviou as perguntas por correio eletrônico, que foram respondidas pela integrante da coordenação do MST, Marina dos Santos, e enviadas na quinta-feira em torno das 18h, dentro do prazo. A repórter até então interessada não entrou mais em contato. A reportagem saiu só no domingo. E, é claro, O Globo não aproveitou as respostas que não lhe convinham.

Por que será que a chamada "grande imprensa" só publica o que convém à elite podre do País?

Abaixo, leia as respostas da integrante da Coordenação Nacional do MST, Marina dos Santos, que não saíram em O Globo.

- Por que o Brasil não sai às ruas contra a corrupção?
Arrisco uma tentativa de responder essa pergunta ampliando e diversificando o questionamento: por que o Brasil não sai às ruas para as questões políticas que definem os rumos do nosso país? O povo não saiu às ruas para protestar contra as privatizações – privataria – e a corrupção existente no governo FHC. Os casos foram numerosos – tanto é que substituiu-se o Procurador Geral da Republica pela figura do “Engavetador Geral da República”.

Não saiu às ruas quando o governo Lula liberou o plantio de sementes transgênicas, criou facilidades para o comércio de agrotóxicos e deu continuidade a uma política econômica que assegura lucros milionários ao sistema financeiro.
Os que querem que o povo vá as ruas para protestar contra o atual governo federal – ignorando a corrupção que viceja nos ninhos do tucanato – também querem ver o povo nas ruas, praças e campo fazendo política? Estão dispostos a chamar o povo para ir às ruas para exigir Reforma Agrária e Urbana, democratização dos meios de comunicação e a estatização do sistema financeiro?

O povo não é bobo. Não irá às ruas para atender ao chamado de alguns setores das elites porque sabe que a corrupção está entranhada na burguesia brasileira. Basta pedir a apuração e punição dos corruptores do setor privado junto ao estatal para que as vozes que se dizem combater a corrupção diminua, sensivelmente, em quantidade e intensidade.

- Por que não vemos indignação contra a corrupção?
Há indignação sim. Mas essa indignação está, praticamente restrita à esfera individual, pessoal, de cada brasileiro. O poderio dos aparatos ideológicos do sistema e as políticas governamentais de cooptação, perseguição e repressão aos movimentos sociais, intensificadas nos governos neoliberais, fragilizaram os setores organizados da sociedade que tinham a capacidade de aglutinar a canalizar para as mobilizações populares as insatisfações que residem na esfera individual.
Esse cenário mudará. E povo voltará a fazer política nas ruas e, inclusive, para combater todas as práticas de corrupção, seja de que governo for. Quando isso ocorrer, alguns que querem ver o povo nas ruas agora assustados usarão seus azedos blogs para exigir que o povo seja tirado das ruas.

- As multidões vão às ruas pela marcha da maconha, MST, Parada Gay…e por que não contra a corrupção?
Porque é preciso ter credibilidade junto ao povo para se fazer um chamamento popular. Ter o monopólio da mídia não é suficiente para determinar a vontade e ação do povo. Se fosse assim, os tucanos não perderiam uma eleição, o presidente Hugo Chávez não conseguiria mobilizar a multidão dos pobres em seu país e o governo Lula não terminaria seus dois mandatos com índices superiores a 80% de aprovação popular.

Os conluios de grupos partidários-políticos com a mídia, marcantes na legislação passada de estados importantes – como o de Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul – mostraram-se eficazes para sufocar as denúncias de corrupção naqueles governos. Mas foram ineficazes na tentativa de que o povo não tomasse conhecimento da existência da corrupção. Logo, a credibilidade de ambos, mídia e políticos, ficou abalada.

- A sensação é de impunidade?
Sim, há uma sensação de impunidade. Alguns bancos já foram condenados devolver milhões de reais porque cobraram ilegalmente taxas dos seus usuários. Isso não é uma espécie de roubo? Além da devolução do dinheiro, os responsáveis não deveriam responder criminalmente? Já pensou se a moda pegar: o assaltante é preso já na saída do banco, e tudo resolve coma devolução do dinheiro roubado…

O presidente da CBF, Ricardo Teixeira, em recente entrevista à Revista Piauí, disse abertamente: “em 2014, posso fazer a maldade que for. A maldade mais elástica, mais impensável, mais maquiavélica. Não dar credencial, proibir acesso, mudar horário de jogo. E sabe o que vai acontecer? Nada. Sabe por quê? Por que eu saio em 2015. E aí, acabou.(…) Só vou ficar preocupado, meu amor, quando sair no Jornal Nacional.”
Nada sintetiza melhor o sentimento de impunidade que sentem as elites brasileiras. Não temem e sentem um profundo desrespeito pelas instituições públicas. Temem apenas o poder de outro grupo privado com o qual mantêm estreitos vínculos, necessários para manter o controle sobre o futebol brasileiro.

São fatos como estes, dos bancos e do presidente da CBF – por coincidência, um dos bancos condenados a devolver o dinheiro dos usuários também financia a CBF – que acabam naturalizando a impunidade junto a população.

Texto da página do MST: http://www.mst.org.br/

domingo, 17 de julho de 2011

A cruel honestidade do Presidente do IBAMA

Roberto Malvezzi, Gogó
Agente Pastoral da Comissão Pastoral da Terra

Finalmente alguém no poder é honesto em suas declarações. Quando Curt Trennepohl, presidente do IBAMA, disse a jornalista australiana que seu trabalho "não é cuidar do meio ambiente, mas minimizar os impactos” e que o Brasil vai fazer "com os índios o que os australianos fizeram com os aborígenes” (F.S.P, 15/07/11), foi de uma honestidade rara e cruel. A declaração é um horror, uma proclamação de genocídio.

Porém, é o que está diante de nossos olhos todos os dias. A tarefa do IBAMA é tentar por remendo novo em pano velho; isto é, amenizar os estragos feitos pelas grandes obras, seja de iniciativa particular ou oficial. A prevenção e a precaução não fazem parte do roteiro governamental.

A CPT, juntamente com o CIMI, sabe que anda muito só ultimamente nas suas lutas pelo campo. As populações mais vitimadas pelo modelo atual, e pelo governo atual, são exatamente os indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais. Os Movimentos da Via Campesina se defendem melhor, até por sua proximidade com o governo. Porém, na hora da luta concreta, as comunidades tradicionais estão enfrentando uma solidão cósmica.

Porém, a honestidade do presidente do Ibama não anula a dimensão cruel, anti-humana, que permeia a política desenvolvimentista atual. Antes, a prerrogativa do sacrifício humano pertencia às religiões. Os que têm descendência bíblica acabaram com essa crueldade quando o Deus bíblico não permitiu que Abraão sacrificasse Isaac. Ele não precisava do sacrifício humano, embora judeus e cristãos depois tenham sacrificado multidões ao longo dos séculos. Mas, Astecas, Incas e outras tradições religiosas sacrificaram pessoas enquanto seus impérios duraram.

Hoje, a prerrogativa do sacrifício humano pertence ao capital. Ele decide quem deve morrer. E quem morre são indígenas, quilombolas, comunidades tradicionais e o meio ambiente.

Se quisermos manter um pingo de dignidade humana, devemos nos afastar não só da direita, mas também das esquerdas que aceitam o sacrifício humano em nome do desenvolvimento, da revolução, ou de qualquer outra causa onde a vida humana seja o combustível.

Na luta contra as mudanças no Código Florestal, Belo Monte, Transposição; enfim, contra o modelo predador imposto, podemos identificar perfeitamente quem é quem no Brasil de hoje.

Fonte: Adital
http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=58393

quinta-feira, 14 de julho de 2011

É preciso defender a vida!

É preciso que aprendamos a nos proteger. Não de um mal difuso, forças ocultas, poderes dispersos. Precisamos nos proteger das ações humanas; das consequências públicas de ações que simplesmente deconsideram seus efeitos sobre aqueles que estão à sua volta.

É o caso da mineração predatória. Uma atividade que faz de nós invisíveis sociais e que se nega a reconhecer nossa dignidade. A exploração dos recursos naturais e do trabalho humano assumiu em nosso tempo uma dimensão trágica e ameaçadora: ameaça a vida das atuais e futuras gerações. Esses recursos não podem mais ser pensados apenas associados ao funcionamento da indústria de mineração. É preciso que se leve a sério a questão política e social que envolve a atividade de exploração sem limites em que estamos sendo enredados. Para isso, é preciso que promovamos uma mudança do modelo de desenvolvimento, uma mudança profunda dos paradigmas que orientam nossas ações cotidianas, uma revisão de valores como justiça, liberdade e equilíbrio. Todos os valores devem ser voltados para a valorização da dignidade humana.

A hegemonia de valores como a competitividade, desenvolvimento econômico e crescimento a todo custo nos levou à silenciosa tragédia que ameaça tomar conta de toda Minas Gerais.

É preciso que as pessoas se defendam dos "decretos expropriatórios" que permitem ao governo-minerador declarar a disponibilidade de toda uma paisagem cultural e de comunidades inteiras para fins de "investimento" e "geração de empregos", inclusive dentro dos perímetros urbanos. O critério do governo-minerador, na verdade, é apenas um: deixar explorar jazidas economicamente viáveis economicamente, onde quer que elas estejam. Não contam as pessoas, não contam as cidades, não contam o patrimônio paisagístico e cultural, não conta a memória. O governo-minerador decide se nosso quintal pode ser transformado em depósito de rejeito de mineração. A nós cabe o lixo ("rejeito"), que é economicamente inviável, os desumanos custos da exploração de matéria-prima para engordar ainda mais o insaciável dragão da mineração.

"Protocolos" com as mineradoras são assinados diretamente nos palácios de governo. Do mapa de Minas são varridas as pessoas, seus lares e sua história. Confiram os mapas do DNPM. Você não está lá, sua casa não está lá, sua cidade não está lá. Aquela trilha, aquela caverna, aquela cachoeira ou córrego onde você passou sua infância, onde você descansa com sua família, pra onde você foge quando precisa reencontrar sua humanidade e seu passado, nada disso está no mapa. Nada disso existe. Somente jazidas.

O legalismo garante a exploração: "tudo está sendo feito rigorosamente nos termos da lei", afirmam mineradoras e governo. A apropriação de tudo que é bem comum - da água, da terra, das montanhas, da vida e saúde humanas - simplemente acontece, e se "legitima" como que por encanto. Se desejam realizar uma pesquisa mineral no Pico do Itacolomi, o fazem. Se querem o ouro de Paracatu, o tiram. Se querem uma Casa de Pedra maior em Congonhas, que venha abaixo o Santuário de Bom Jesus de Matosinhos. E assim o Caraça, as águas do Gandarela. Serra Azul, Serra da Moeda, Serra da Piedade, todas as serras.

Em todo lugar uma mina: afinal, "minas, são muitas". Tantas que já não há mais lugar para gente. A famosa frase de Guimarães Rosa assume, hoje, ares de trágica premonição.

O poder minerador se tornou maior que as instâncias políticas responsáveis pela defesa dos direitos das pessoas. Um Estado dentro do Estado. É em nome de lucro e crescimento que falam e agem. Em nome dessa crença, desta religião, se autorizam a intervir até na geografia de Minas Gerais. Favelização, sobrecarga das estruturas urbanas, degradação ambiental, desertificação, esgotamento de nossos recursos hídricos.

A questão é também de ordem ética: a mineração age hoje desvinculada de quaisquer valores sociais e humanísticos de uma nova era de responsabilidade, de consciência quanto às consequências coletivas de nossas ações. Claro que não é o que os discursos das mineradoras dizem. Vejam a publicidade. Só os ingênuos acreditam.

É preciso agir. Boa parte daqueles que elegemos para defender nossos direitos estão nos traindo. Não nos enxergam do alto dos ombros dos gigantes nos quais estão montados (ou será o contrário?). Por isso, informe-se! Comprometa-se! Venha defender a qualidade de vida para você, para os seus e para as futuras gerações. Diga não à mineração em área urbana. Posicione-se a favor de uma definição participativa e democrática de marcos regulatórios para a mineração. Juntos, não temos como ser ignorados.

Texto reproduzido a partir do blog Mariana Viva.
http://marianaviva.blogspot.com/